AB6 - Reencontrar o passado

Um dia, uma citação

AB6 - Encontros e reencontros

sábado, 31 de março de 2007

Playlist – a minha música

O meu playlist mais não é do que uma longa lista de 400 títulos de música, editados ou gravados entre 1948 e 1970.

Porquê apenas entre 1948 e 1970?

Pois é, aqui está reflectido todo um trabalho de alguns anos, relativamente à pesquisa, audição e análise de músicas e procura de informação acerca dos intérpretes, anos de gravação e muitas outras dicas importantes para a definição do meu playlist.

Não sou nem nunca fui um homem da música. Aliás o meu ouvido musical é duro como uma rocha. A dessincronização entre a música e o meu pé-de-dança é confrangedora.

Só quando muito agarradinho, devagarinho e sem sair do sítio, me é permitido simular que danço.

Alguns nomes e músicas ficaram retidas no meu subconsciente desde a infância através do rádio que a minha mãe deixava ligado todo o dia (Mário Lanza-Granada, Joselito-Campanera, Amália, Maria de Fátima Bravo, Maria de Lurdes Resende e Tristão da Silva), desde a adolescência através dos auto-falantes do Jardim do Calvário nas tardes e noites de verão (Paul Anka, The Platters, The Shadows, Marino Marini, Duo Ouro Negro, Roberto Carlos, Adamo e Conjunto Académico João Paulo) e desde a minha comissão em Nova Freixo, Moçambique, através do gira-discos e rádios que entoavam nas nossas camaratas e dos bailes no Grupo Desportivo de Nova Freixo (Conjunto Oliveira Muge-A Mãe, Barry Ryan-Eloise, Bee Gees, Neil Diamond, Paul Simon & Art Garfunkel, Scott Mckenzie, Mamas and Papas, Creedence, Percy Sledge, Quarteto 1111, Otis Redding, The Beatles e Adriano Correia de Oliveira )

Estes nomes ficaram retidos mas nunca lhes dei importância ou valor. Nessa altura eu detestava ouvir Amália, o Fado, The Beatles, Elvis e todos aqueles que constantemente nos eram impingidos pelas rádios e odiava cegamente a música francesa.

Só que a minha estadia no AB6 e Nova Freixo marcou toda a minha vida. Não mais houve dia em que o meu pensamento, por mais breves segundos que fossem, não voasse até o AB6 e Nova Freixo. Eu vivia dessas recordações e das quase trezentas fotografias que de lá trouxe, até que, como que por encanto e depois dos meus cinquenta anos, descobri que a música, que eu retivera da minha infância, adolescência e de Nova Freixo, me conseguia transportar para o passado com muito mais realismo do que as fotografias e recordações distantes e que, todos juntos, me proporcionam enormes momentos de felicidade … amarga.

A profunda e aturada pesquisa que efectuei resultou numa crescente bola de neve, e os nomes e temas foram-se redescobrindo encadeados uns nos outros, fazendo com que a minha memória ressuscitasse músicas e intérpretes que eu desde sempre sepultara.

Ouvir, analisar e comparar, com muita paciência e dedicação, foi o caminho trilhado para a definição e composição deste playlist.

Muito gostaria de incluir os tangos de Carlos Gardel, o Summertime de George Gershwin, o Ne Me Quitte Pas por Mireille Mathieu, o Don’t Cry For Me Argentina por Julie Covington ou No Llores Por Mi Argentina por Paloma San Basílio, o Angie dos The Rolling Stones, o Breakfast In América dos Super Tramp, o Cry Baby de Janis Joplin e Canção do Mar por Dulce Pontes, mas estão completamente fora do balizamento que impus, 1948 (ano do meu nascimento) e 1970 (ano do meu regresso de Nova Freixo).

Mas, então monstros sagrados hispano-americanos como Consuelo Velásquez, Jorge Negrete, Lucha Villa, Lucha Reys, Agustin Lara, Lola Beltran, Pedro Infante, Pedro Vargas, Aceves Mejia e Trio Los Panchos, brasileiros como Maria Betania, Elis Regina, Caetano Veloso e Chico Buarque, portugueses como Carlos do Carmo, Carlos Ramos, Simone de Oliveira, Fernando Farinha, Zeca Afonso e Fernando Machado Soares, anglo-americanos como Frank Sinatra, Donovan e Ella Fitzgerald, e muitos outros mais, incluindo da música italiana, espanhola e francesa, não mereceram a minha preferência e convocatória?

Não e não. Alguns, poucos, porque não encaixaram nos parâmetros predefinidos e todos os outros porque não conseguiram agitar a minha memória e não conseguiram, também, empolgar a minha precária sensibilidade musical.

Quanto aos hispano-americanos, a musicalidade de Luís Alberto del Parana Y Los Paraguayos, simplesmente Los Paraguayos, arrebatou a minha memória e agitou a minha precária sensibilidade musical, de tal forma, que a eles, interpretes de quase todos os grandes êxitos da América Latina, os considerei uma mais-valia importante no meu playlist.

Quanto aos brasileiros, poderei dizer que desconhecia completamente a existência de Cascatinha e Inhana e Tonico e Tinoco e portanto, não foi a minha memória que os elegeu. Simplesmente fiquei fascinado com estes dois duetos da música sertaneja e caipira.

E Frank Sinatra, o maior do século XX?

Pois é, poderia ter sido o maior, se calhar até foi mesmo, mas não conseguiu impressionar-me. My Way agitou a minha memória, é verdade, só que a interpretação de Elvis Presley, considerando o meu modesto gosto musical, arrasou a de Frank Sinatra.

Ouvi e analisei o Summertime de George Gershwin, na interpretação de Ella Fitzgerald & Louis Armstrong e também na de Janis Joplin e, sinceramente, sem chauvinismo, preferi e prefiro a interpretação do nosso grupo Sheiks, no qual a voz do jovem Carlos Mendes sobressai. Mas como já venho dizendo, a minha sensibilidade musical é muito rudimentar e pode e deve ser questionada.

Não se trata de retórica fútil. Eu ouvi, analisei e comparei as interpretações de todos estes monstros e as escolhas obedeceram unicamente à conectividade, ou não, com o meu passado e a um gosto, provavelmente analfabeto, mas marcadamente pessoal.

Esta pesquisa, este estudo, permitiram maravilhar-me com temas e interpretes, para mim, proscritos na minha adolescência e juventude.

A importância deste post poderá ser nula, mas eu, sinceramente, espero acordar a memória de muitos.

Aqui, no O Fafe do AB6, reviver alguns dos mais apreciados temas, ouvidos no AB6 e Nova Freixo de 1968-1970, é dar sentido ao sonho:


- Música no AB6 - Lusitana (64)

- Música no AB6 - Anglo-americana (96)

- Música no AB6 - Brasileira (31)

- Música no AB6 - Italiana (29)

- Música no AB6 - Hispano-americana (32)

- Música no AB6 - Francesa (24)

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny