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domingo, 22 de julho de 2007

O apito morgado e a gémea

Ana Maria Salgado garantiu ao Ministério Público (MP) que a irmã iria ser treinada para não hesitar nas declarações que venha a prestar em tribunal nos processos em que é acusado o antigo companheiro, Jorge Nuno Pinto da Costa.

Em depoimento prestado no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do MP do Porto, no âmbito da queixa por difamação apresentada pelo médico Fernando Póvoas, a gémea de Carolina Salgado falou em alegadas cumplicidades com os investigadores do processo Apito Dourado e relatou inclusive alegadas reuniões com um dos elementos da PJ integrados na equipa de Maria José Morgado, com vista a preparar as versões a apresentar nos diferentes casos em que está envolvido o presidente do F. C. Porto.

"Tem conhecimento de que está prevista uma espécie de 'formação' da Carolina nas instalações da Polícia Judiciária de Lisboa, a fim de a preparar nos depoimentos (nomeadamente para a mesma não vacilar) que tenha que prestar no âmbito dos processos conhecidos como Apito Dourado", pode ler-se num dos autos de inquirição.

Esta versão de Ana Maria Salgado já foi classificada pela própria Maria José Morgado como totalmente falsa, considerando "ridícula qualquer hipótese de maus métodos processuais" ou métodos proibidos de recolha de prova. Por estas declarações, a magistrada vai apresentar queixa por difamação, denúncia caluniosa e falso depoimento.

Leonor Pinhão referida

Mas a irmã gémea de Carolina continua a garantir a veracidade das suas afirmações, jurando não estar a ser manipulada.

Para lá de dar conta de um alegado interesse em fazer com que a ex-companheira do dirigente desportivo não entre em contradição nos depoimentos a prestados e que venha a prestar quando interrogada nos julgamentos dos diversos processos ainda a correr, falou de contactos entre Morgado e Carolina, dizendo que a magistrada lhe deu "força para continuar", num momento em que soube estar "psicologicamente em baixo".

E garantiu ainda que a coordenadora do Apito Dourado telefonava a Carolina sempre que era deduzida uma acusação, no âmbito da megainvestigação à corrupção no futebol.

No depoimento no DIAP, Ana Salgado implica Luís Filipe Vieira e Leonor Pinhão na suposta "trama" contra Pinto da Costa, garantindo que o presidente do Benfica pagou 20 mil euros a Carolina e assegurou antecipadamente a compra de um lote considerável de exemplares do livro "Eu, Carolina", à D. Quixote.

Ana Salgado vai entregar ao Ministério Público (MP) a versão original do livro "Eu, Carolina", que diz ter em sua posse, apurou o JN.

Esta diligência integrar-se-á num processo já a correr no DIAP do Porto centrado nas declarações de Fernanda Freitas já noticiadas pelo JN, segundo as quais o livro que revolucionou o processo Apito Dourado sofreu várias alterações, com suposta intervenção de pelo menos Leonor Pinhão, conhecida jornalista, adepta do Benfica e colaboradora da editora D. Quixote.

No depoimento prestado no MP, a irmã gémea de Carolina deu ainda uma explicação para a aparente zanga entre a professora que ajudou a escrever o livro e Carolina.

A docente pretenderia 30% daquilo que Carolina viesse a receber mas foi, afinal, paga no montante de apenas 500 euros pela própria editora.

As denúncias da irmã vão mais longo e chegam ao ponto de garantir que Carolina já recebeu 10 mil euros por conta do filme "Corrupção", baseado no livro. Diz que foi passado recibo verde e que uma parte do dinheiro foi depositado no BPN e outra parte está no cofre do restaurante do pai.

Desde que, por sua iniciativa juntamente com o marido, prestou testemunho, Ana Salgado tem estado em parte incerta para o pai e irmã.

Na entrevista de anteontem à SIC, refutou e lamentou a afirmação lançada publicamente por Joaquim Salgado sobre presumíveis problemas mentais, designadamente doença bipolar.

Publicado no JN em 22/07/2007

E agora, Sr. Procurador-Geral, pergunto eu?

Quem irá investigar e quem garantirá a preservação e protecção do depoimento da gémea tresmalhada?

E aos responsáveis a nomear serão delegados poderes de isenção e de independência face a Maria José Morgado e à sua equipa?

Eu recordo aqui, mais uma vez, que eu, porque a isso não sou obrigado, não confio na seriedade e na isenção da Maria José.

A independência e a equidade, que reclamamos para a nossa justiça, justificariam que a investigação e aprofundamento do testemunho da Ana Maria Salgado, do livro de Felícia Cabrita, Luzes e sombras de um dragão e das declarações de Fernanda Freitas, fossem delegados nos magistrados que viram os processos do apito dourado, por si arquivados, serem reabertos pela Maria José.

Isto será o mínimo exigível, porque, se eu acreditar nos meus pecaminosos pensamentos, nos quais eu sinto que o dossier do Luís Filipe Vieira, que o projecto, elaboração e publicação do Eu Carolina, que o projecto, argumentação e encenação do filme Corrupção e que a reabertura de processos do apito dourado, são parte de um todo e são o desígnio de um enorme e terrível polvo de seis milhões de tentáculos, eu exortarei todos os amantes da verdade e da justiça a reclamarem veementemente o recurso ao procurador espanhol Baltazar Garzon.