AB6 - Vida boa, boa vida
Pela minha experiência no AB6, poderei dizer que, nesses dois anos, vivemos uma vida boa e uma boa vida.
Não será, logicamente, um testemunho vinculativo a todos os que por lá passaram nessa altura, pois cada um terá o seu próprio juízo de valor e eu não questionei, sobre isso, alguém. No entanto, é o que se sentia nos nossos contactos e convívios.
É elucidativo como, numa região afastada de Lourenço Marques mais ou menos 1.400 Kms, afastada do litoral à volta dos 700 Kms e a mais de 300 kms de Nampula, os dedos de uma mão cheguem e sobrem para contar os que, nessa altura e nos dois anos de comissão, tenham solicitado transferência para Lourenço Marques ou Beira, as duas mais importantes e grandes cidades de Moçambique.
E isto, frise-se, quando a transferência, para a base aérea de uma dessas cidades, era um direito estipulado e pré-concedido a todos os que cumprissem um ano de permanência no AB6 ou nos seus aeródromos satélite (AMs de Vila Cabral e Marrupa).
Esta constatação é significativa e atesta, realmente, a vida boa e a boa vida que aí levámos.
O grande companheirismo, amizade e cumplicidade entre quase todos os abseisistas, independentemente das divisas e galões, da cor e religiões e o excelente relacionamento e convívio com todos os residentes de Nova Freixo, naturais, metropolitanos ou monhés (sem ofensa), constituíram um importante factor para a permanência, durante toda a comissão, no AB6 e, obviamente, em Nova Freixo, da grande maioria.
Mas nunca seria suficiente se essa vida boa e boa vida não nos fosse concedida e permitida pelo comando da base, em muitos e variadíssimos aspectos.
As noites de Natal de 1968 e de 1969, apesar de, para quase todos, serem as primeiras vividas fora do seio familiar, foram paradigma dessa alegria e desse bem estar no nosso dia a dia no AB6.
O comando providenciou para que nada nos faltasse nessas noites de profunda simbologia e saudade, desde o bom bacalhau, batatas, ovos, variada hortaliça, bom azeite, bom vinho (tão raro e caro por aquelas bandas), doces e bolos variados, queijo, vinho do Porto, café, etc., etc.
E nem no dia de Natal faltou o respectivo almoço, como manda a sapatilha, com todos os ingredientes.
Por isso eu, através deste post, e penso poder fazê-lo em nome da maioria dos meus antigos companheiros, quero prestar homenagem e fazer vincar o nosso reconhecimento ao grande Homem que dirigiu o AB6 entre 1968 e 1970.
Permitir que hoje possamos dizer, apesar do isolamento, das saudades e da guerra de que se falava mas que nunca vimos (não esqueço os que pela via aérea tiveram que ir ao seu encontro, com os perigos daí inerentes), que esses foram os melhores tempos da nossa vida ou as melhores férias que já gozamos, é uma extraordinária dádiva do nosso comandante.
Muito obrigado, meu Comandante. O nosso agradecimento é o testemunho da nossa estima e consideração e do nosso reconhecimento pela sua grandeza como Homem, muito acima dos galões militares.
Um bem haja para Luís António da Silva Araújo, então Tenente-Coronel piloto aviador.
Não poderia, jamais, esquecer o 2º comandante, o nosso jovial amigo Capitão Montovani, também piloto aviador.
Recordo o Homem Bom que na comissão seguinte, na Guiné, voaria para a eternidade.
Até sempre, capitão Montovani.
1 comentário:
Grande Fafe...
Foi com saudade que "desfolhei", o teu blog. Belos tempos aqueles! E que eu me entretia (e ganhava alguns tostões também) a desenhar as namoradas da malta, a imitar uma trompete em dueto de jazz com o Valente e a sua viola ou nas caçadas nocturnas em que ía de bicicleta até ao "Regulado Matia" mais o Judeu e voltávamos de manhãzinha com um javali para o nosso petisco.... Um grande abraço.
Mário C. Silva, 1º cb. esp. OPC 915/67
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